quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Fábula...





Fábula...

Pairava sobre o poema
uma fagulha no ar ,
E sob o sol matinal
pétalas rubras voavam,
parecia que na fábula
algum pólen misterioso
de um planeta distante
esparramava o fulgor.
E se a leitora sensível,
compreendesse o sentido
manteria essas imagens
na lira que tange as cordas
do que não é perecível.

Gladis Deble


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Casa na Árvore




Casa na Árvore

Casa no alto instalei
para curtir nosso amor.
Nossa alma passarinho
nas alturas coloquei.

Uma árvore arejada
frente ao rio encontrei...
Dois andares de ternura
olhar ao longe lancei.

A brisa beija o cabelo
o vento lança canção,
na paisagem do mirante
embalo sonho e paixão.

Gladis Deble

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Acompanhada




Acompanhada

Para alguns a chuva castiga
cai sentida em solidão ...
Mas se bem acompanhada,
é música para os ouvidos,
é primavera florida,
pondo em festa o coração.

Gladis Deble

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REDEMOINHO




REDEMOINHO

Numa paisagem  de fogo
queima ligeiro a macega
Não há água que resolva
esta voragem que cega .
Os meus olhos não entendem
porque tal redemoinho
precisa queimar também
justo a pá do meu moinho...

Gladis Deble

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terça-feira, 4 de setembro de 2012

Buquê de primavera



Buquê de primavera

Limpo a lareira e a casa
O inverno vai embora ...
Setembro instala aromas
e uns prenúncios de aurora

A criança que anima a anciã
dança feliz no quintal
Min'alma tem novo espelho
para mirar as manhãs

A carruagem de Ostara
Traz consigo nova era
A luz sobrepuja o escuro
Num buquê de primavera.

Gladis Deble

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Um amor, uma cabana...



Um amor, uma cabana...

Entre o mar e a montanha
encravado numa escarpa,
depois do bosque e tulipas
há um chalé que é encanto.

Por estrada sinuosa
deslizamos para a serra
tem vinhedos nessa terra
Sob uma manta brumosa.

Belo bosque de araucárias
junto a pedras e madeiras.
Abelhas fazem a festa
com as papoulas e dálias.

No interior da cabana,
vida simples e carinho.
Ao pé da lareira, vinho
E nós, no aconchego do ninho.

Gladis Deble

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Eu peixe ave



Eu peixe ave

Minh'alma anda no charco
arremessada em cardumes
É como o bico dos pássaros
a carregar musgo úmido.

Eu revestida de escamas
Ou furtacor a brilhar...
Curiosidade me chama
Um bico esperto me arrebata.

Minh'alma dança no ar,
pratica pesca sem anzol,
mergulho certo da ave ...
ao peixe horizonte final.

Gladis Deble

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Das olheiras...



Das olheiras...

A lua um balão imenso
Silente viaja no céu.
Vaga entre montes de nuvens
São meus olhos carrossel.

Das olheiras que imprimiu
No meu rosto, sorrateira...
Serenos descem em véu
Eu escrevo a noite inteira.

É o satélite dos loucos
Faz a vigília tardia ...
Uma inspirada demência
Aos poetas, eloquência.

Salpica o pó das estrelas
Os seus brilhos nas janelas...
Visionária, creio nela,
Bebo lume dessa esfera.

Gladis Deble

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quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Bulevar



Bulevar

Num bulevar do passado
passeia entre alamedas
duas sombras de um casal.
Ela figura risonha
a farfalhar sua saia,
desvia os passos da lama.
Ele entre beijos, galante,
oferece flor, a dama.
Depois a cena se some
evanesce entre as arcadas.
Fica somente a bailar
pela folhagem do parque,
um guarda chuva quebrado
e duas sombras do casal.

Gladis Deble

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Cálculos do amor


(ignat ignatov)


Cálculos do amor

Os cálculos do amor
nem sempre fecham
nas contas.
Nessa régua falta números
para medir os arroubos.
Na espera dos ausentes
emperra a linha do tempo,
é o teatro do absurdo,
pra quem está apaixonado.
Explicação é inútil
nessa outra matemática.
Quando invade a saudade
qualquer minúscula ausência
inaugura uma eternidade.

Gladis Deble

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Místico acordo



Místico acordo

Neste corpo perecível
habita uma alma eterna.
Alma provem das estrelas
o corpo é pó de caverna.

Semeias os frutos,
distribuindo os papéis,
Interpretamos o script,
nem sempre muito fiéis...

E num acordo místico formado
pela cortina do palco,
desnuda-se a alma aflita
exibindo a atriz que nesse corpo habita.

E gira a roda da vida
e chega a noite temida
Caducos, pós modernos,repetitivos...
Partiremos! Retornaremos nús,
novamente recém- nascidos.

Gladis Deble

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Sugestão



Sugestão

Cai uma chuva de letras
na bruma fria e espessa.
Sugere verbos a esmo
essa mistura de inverno.

Desabam seus aguaceiros,
torrentes em correria.
Transformo imagens que vejo
em punhados de poesia.

Gladis Deble

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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

SÍNTESE




SÍNTESE

Esses braços enlaçados
Junto as pernas confundidos
Já tramaram doces toques.
E os rubores dessas faces,
Abrem risos comovidos
na meiguice une os corpos.
É sarça ardente, é incendio.
Tocam fundo em surdina...
Dilaceram as comportas.
Corpo e alma num só membro
desatrelados do mundo.

Elegia à sedução
e à síntese.

Gladis Deble

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FLOR E JARRO



FLOR E JARRO

Nas pétalas da flor ,eu escondida
na tua jarra fenecia em transparência
Não percebia assim, tão distraída,
em água e solidão me embebia ...

E o talo verde que mantém a flor
que viceja ou que fenece
aos seus caprichos,
Não sabe a solidão que me arrefece

A tua jarra indiferente a meu tremor
perdida no reflexo , não vê
Calafrios de paixão que tem a flor.

Gladis Deble

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Nas águas da memória



Nas águas da memória

Um plano no âmago do vento
é travessia audaz que projetei
Longitudes e limites do desenho
no mapa das fronteiras que lavrei.

Há um túnel de ventos, temporais
latitudes apontam para as ilhas,
e o bramido que soa nesta hora,
faz um sulco nas águas da memória.

Rubro e dourado morre o dia
em pompa e circunstância mergulhado.
Em negra singeleza a noite fria
encobre o hemisfério arrebatado.

Dos quentes sonhos acordados
Alma e corpo combinados ...
Arbítrio no terreno do possível
e os olhos na lagoa mergulhados.

Gladis Deble

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Rodas da infância




Rodas da infância

Roda cores do pião,
na tarde gira...
Espirais de saudade
me assaltam...
Os giros são os elos
da corrente que põe tudo 
em constante movimento.
Pela corda os anelos
puxam links nas rodas
da infância a circular,
a memória com saudade
vem brincar.

Gladis Deble
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sábado, 7 de julho de 2012

LEGADOS DO MAR




LEGADOS DO MAR

Palavras na voz do vento
perdidas num marulhar.
Caramujos enroscados...
conchas e estrelas do mar.

Redes rotas pelo tempo
minhas mãos a esperar...
Teço rendas ocupada
espero barcos voltar.

Meu olhar mergulha fundo
a poesia aqui dá pé...
Seu corpo esconde segredos
no cadeado das marés.

Gladis Deble

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5ª Garrafa




5ª Garrafa

Garrafa de esperança
Viagem de exploração.
Singram águas a mover
Um veleiro de emoção.

Em águas transparentes,
Ouço vozes a cantar...
No tombadilho as canções.
Marinheiros bêbados retornam
a mover intermináveis ilusões.

Adega repleta de sabores...
Velames em fragmentos de nau.
Grandes espelhos são os oceanos
Refletem nas águas, desenganos.

Paredes de vidro permitem
Ver céu, procelas, passaredo.
Areias, espumas desmanchadas
Cardumes coloridos a brincar.

Minha alma vem ciclos fechar
Carta náutica, rabiscada de poemas.
Bússolas, búzios, banimentos.
Um amoroso mundo novo
Instalar.

Gladis Deble

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FENDA DO TEMPO


(natureza morta e rua - Esher 1937)

FENDA DO TEMPO

Na pintura de uma tela
pela janela dos ventos,
espio outro universo...
E numa fenda do tempo
presenças vivas transbordam,
fantasmas queimam quimeras,
clamam a ausência dos corpos...
Meus afetos numa bolha
escapam pela janela.
Ocaso fecha o capítulo,
natureza morta no vaso ...

GLADIS DEBLE

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INS [piração]



INS [piração]

Acostumada ao tórrido verão
pensei quentes versos
para dedicar-lhe.
Recostada no caule
a espera do outono,
vejo partículas de pétala
a voejar no meu sono.

Sibilam sílabas na brisa
ao recitar meus delírios
e o encanto desse instante
vai ditando pergaminhos ...
Entre juncos e papiros
o anjo do amor ancora.
É mais fácil versejar
se em você eu me inspiro.

Gladis Deble

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segunda-feira, 25 de junho de 2012

DUBLÊS




DUBLÊS

Meigo é o tom de romance
a dominar nossa prosa,
é promessa de encontro,
tecida ao sopro do vento.
Embalados sem a rede,
nossos corpos de dublês.
Saltam juntos dos abismos
num terno sonho a antever.
A pressa anda comigo
pois eu preciso te ver.

Gladis Deble

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Nossa Infância



Nossa Infância

Olhar pousado no mar
Vemos pássaros brincar.
Sons de conchas, flauta doce,
desenho barcos partir.

Nossa infância é uma vela
que o vento vai carregar...

Gladis Deble

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No Sereno




No Sereno

Acolhe-nos agora
na aragem da manhã
estas pétalas rubras...
E meus olhos procuram
pelos teus peregrinos
a pulsar pela bruma...

Gladis Deble


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A Roda das Estações




A Roda das Estações

Um caminho de folhagens
para compor os silêncios.
Na dança meiga dos ventos
Vermelhos tem primazia
o amarelo transitório
não lembra que já foi verde.
O verão caiu de maduro
da roda das estações,
prepara novas nuances
à poética do outono...

Assopra folhas sem fim
Vida que arde em delírios
a correr atrás de mim ,,,

Gladis Deble


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terça-feira, 12 de junho de 2012

Pluma



(Fin_del_verano_by_ELENADUDINA)



Pluma

A cabeleira dos galhos
enredara-se no outono...
Se fosse mais razoável
sua oferenda de pomos

O cheiro bom do verão
penetrou todas as frestas
mas eu levo para o futuro
é esta pluma de ilusão ...

Gladis Deble

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O beijo


O beijo

Como explosão de pipoca
Ou estrondo de trovão,
O relâmpago faz riscos
e enche o céu de clarão.
Assim é o clima do beijo
num ataque de emoção.
Depois retorna ao normal
Põe na lenta a vibração
É como desenho de nuvem
desmanchado na amplidão.

Gladis Deble


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Do Mar




Do Mar

Na correnteza azul, água salgada
O corpo perde peso, transfigura-se.
Eu era uma sereia desenvolta
Cantava uma sonata distraída.

E a languidez do corpo liquefeito
mergulha numa onda de borbulhas.
Esta límpida essência tem memória
rastreando a humana energia. 

O afeto escondido nas conchas
resume minha alma em poesia.
As areias do tempo a passar
carregam mistérios do fundo do mar.

Gladis Deble

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Pombo-correio




Pombo-correio

Contornos ciliares da floresta
abrigam aves diversas.
E os galhos rebatidos
que não vês
formam ecos de pios
em minhas costas ...

A saudade improvisa um código
minha mão na janela
sabe que você veio ...
E esse barco encalhado
num banco de areia
e os portos devastados,
estagnados na névoa
das cidades.

Sopram ventos na praia
sons de búzios,
madeiras de naufrágio,
garrafas quase cheias.
Um rumor de asa
pressagia meu seio...
Cai a tarde e tu chegas;
Pombo-correio.

Gladis Deble


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sexta-feira, 18 de maio de 2012

Outono


Outono

Folhas rolam em torvelinho
formam texturas e tramas.
Tapetes misturam cores.
Ocres desprendem dos galhos,
Pardos na palha dos ninhos.
Vermelhos os frutos do outono
e a cabeleira da deusa esparramada.

Gladis Deble

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Paisagens Caiadas



Paisagens Caiadas

Lua cheia mês de maio
de prata cobre a terra,
Tece contas de um rosário
brilho ancestral ela encerra

A paisagem caiada dessa noite
Os segredos longínquos denuncia.
Cintilam estrelas nos quadrantes,
Abrem  asas ao vento, assombrações...

E as corolas lunares tão brilhantes,
na gangorra dos ventos,
vem brincar...

Gladis Deble

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Fascínio


Fascínio

Quando essa lua nos chega
e ilumina os recantos
transfixada de luz
resolvo todo meu pranto

Um anjo espalha fulgores
entre os lírios do canteiro.
É intenso meu delírio
ancoram novos amores

Desenho novo roteiro
procurando simetria.
Estendes amplo domínio
é teu lume meu fascínio.

Gladis Deble

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Espera




Espera

Meu coração, uma ilha
sozinho ao sabor do vento.
Fustigado e sem conforto,
espera por seu retorno

Risca um barco o aguaceiro
a meditar na saudade,
São seus remos fortes braços
a prometer aconchego.

Gladis Deble


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terça-feira, 8 de maio de 2012

JANELA DA CAPELA



JANELA DA CAPELA

Se é de pedra a capela
nossas preces são sussurros.
Amarelos, asas do sol
vem desenhar na janela.
Quimeras rondam na esquina,
Confissões quebram segredos.
Os sinos espalham rumores
de amores clandestinos.

Gladis Deble

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Para o amor




Para o amor

Prepara as artes do corpo;
estratégias de mulher ...
Seus arsenais são segredos
que envolvem certo mistério...
Suas armas preparadas,
leves pétalas de flores.
O espelho um aliado,
sabe todosw os desejos.
Na alma o giro do tempo
Tem em si todas as rosas.
Elos da metamorfose
Construída para o amor.

Gladis Deble


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HISTÓRIAS...



HISTÓRIAS...

Este veleiro que parte
todo dia a navegar...
Rumo ao pesqueiro da lua
Sob o céu a flutuar
Tem no tramado das redes
tanta história prá contar.

Gladis Deble

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DO OUTRO LADO


DO OUTRO LADO

Percorro novos caminhos
de mãos dadas com o verso,
Na linha da poesia
cruzo a ponte do criar ...
Cai algo das entrelinhas
que eu devia carregar
ao outro lado do rio.
Meu coração camuflado
quer voar em desvario.
Mas, o mantenho na linha
Vai como um balão de gás
atado a ponta do fio.

Gladis Deble

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quinta-feira, 26 de abril de 2012

ROSAS DE ABRIL



ROSAS DE ABRIL

No ritmo quaternário
São tecidas as estações.
A natureza trabalha,
Faz madeira e vibrações ...
E a maneira com que toca
as cordas de uma canção
destila rosas de abril .
Borboletas no tecido,
vão mudando as emoções,
Até que a nota sutil,
abre em flor o coração.

Gladis Deble

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VIDA-ESCOLA


VIDA-ESCOLA

Dizem que o mundo é escola
nós, alunos desatentos...
Reprovados repetimos
a lição negligenciada.

Se aprovados seguimos
outra etapa a vivenciar.
Colhemos sempre os frutos
da semente semeada.

Algum espinho machuca?
Uma pétala consola!
Sempre evola algum perfume
para alunos desta escola.

Gladis Deble

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